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domingo, 22 de janeiro de 2012

‘A Casa dos Sonhos’

Se, há uns dez anos mais ou menos, alguém me dissesse que em pouco tempo Jim Sheridan estaria realizando um filme hollywoodiano sobre uma casa mal-assombrada, com grandes estrelas, esta pessoa provavelmente seria chamada de maluca. Afinal, o renomado cineasta construiu toda sua reputação e conquistou nada menos do que seis indicações ao Oscar em produções mais intimistas, do chamado “circuito de arte”, ao retratar nas telas histórias voltadas a personagens pertencentes às classes pouco favorecidas da Inglaterra e Irlanda, como ‘Meu Pé Esquerdo’, ‘Terra da Discórdia’ e ‘Em Nome do Pai’. Após um breve flerte com o cenário norte-americano no ainda ótimo ‘Terra de Sonhos’, o diretor entrou de vez na cultura dominante do cinema com ‘Entre Irmãos’. Pois agora a bola da vez em seu currículo é ‘A Casa dos Sonhos’ com Daniel Craig, Naomi Watts e Rachel Weisz.

Will Atenton (Daniel Craig) é um bem sucedido editor em Manhattan que deixa o emprego e se muda com a esposa Libby (Rachel Weisz) e suas duas filhas para a cidade de Nova Inglaterra. Só que logo eles descobrem que a casa onde vivem foi, no passado, o local do assassinato de uma mãe e seus filhos, um crime que a cidade inteira acredita ter sido cometido pelo próprio marido. Will começa a investigar o caso e logo percebe que há algo de estranho na história. Sua única pista é Ann Patterson (Naomi Watts), uma misteriosa vizinha que conhecia a família que foi vítima da tragédia.

Bom, o difícil é intender o que levou Sheridan, realizador consagrado já em seus primeiros filmes, a arriscar-se por um cinema mais comercial. O fato é que, como aconteceu milhares de vezes com outros cineastas, a máquina de Hollywood parece ter engolido o diretor, que há anos não consegue entregar um trabalho com qualidade semelhante à de seus primeiros esforços.

Os nomes envolvidos no longa ainda traziam uma sombra de esperança: afinal, além de Sheridan no comando, ‘A Casa dos Sonhos’ ainda conta com um elenco talentoso, formado por Daniel Craig, Rachel Weisz e Naomi Watts, e o renomado Caleb Deschanel na fotografia. Infelizmente, nada disso foi capaz de tornar lógico ou ao menos aceitável o roteiro escrito por David Loucka, que tenta ser muito mais inteligente e profundo do que realmente é tornando a experiência de assistir ao filme gradualmente exasperante.

Como se não bastasse, Sheridan, talvez pela sua inexperiência em um gênero como o suspense, demonstra mão pesada em determinados momentos, sem contar o fato de ter se rendido aos clichês. Algumas cenas, como aquela já citada envolvendo os policiais, jamais encontram o tom certo, enquanto o cineasta ainda derrapa na tentação de ceder aos momentos de sustos fáceis, que quase sempre são utilizados para mascarar o fracasso de não conseguir construir uma tensão gradual. Da mesma forma, e prejudicado também pelo roteiro, Sheridan não parece ser capaz de qualquer sutileza na forma como conduz suas cenas: já no início do filme o espectador percebe qual a grande reviravolta proposta pela trama e quem é o vilão – aliás, uma criação incrivelmente caricatural e quase aleatória.

Falando na tal reviravolta, por mais previsível que seja, é interessante o que Sheridan e Loucka fazem com ela: ao invés de guardá-la para o final, diretor e roteirista jogam-na na metade do filme. É algo raro no cinema comercial americano, uma vez que normalmente as narrativas são construídas para justificar a surpresa final – portanto, não deixa de ser um tanto ousado

Por outro lado, como já dito, não apenas é fácil de antecipar, como também leva a uma pergunta crucial: o que virá depois? Infelizmente, essa não é uma pergunta que o filme consiga responder de maneira satisfatória. Parece não haver história para o terceiro ato, o que acaba levando à ridícula criação do vilão, tão absurda e rasa que parece ter sido desenvolvida unicamente com a intenção de preencher o tempo de filme – e talvez sejam os antagonistas mais incompetentes da história do cinema, já que não são capazes de fazer uma única coisa certa.


Nota: 4
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‘A Casa Dos Sonhos’



Título original: (Dream House)
Lançamento: 2011 (EUA)
Direção: Jim Sheridan

Roteiro: David Loucka
Duração: 92 min.
Gênero: Drama/Suspense
Estúdio: Morgan Creek Productions / Cliffjack Motion Pictures
Distribuidora: Universal Pictures (EUA) / Warner Bros (Brasil)


Elenco

Daniel Craig (Will Atenton)
Naomi Watts (Ann Patterson)
Rachel Weisz (Libby)
Elias Koteas (Boyce)
Marton Csokas (Jack Patterson)
Taylor Geare (Trish)
Claire Geare (Dee Dee)
Rachel G. Fox (Chloe Patterson)
Jane Alexander (Dr. Greeley)
Brian Murray (Dr. Medlin)
Bernadette Quigley (Heather Keeler)
Sarrah Gadon (Cindi)
Gregory Smith (Artie)
Mark Wilson (Capitão Conklin)
David Huband (Oficial Nelson)
Martin Roach (Tommy)


Curiosidades

- Erik Van Looy esteve perto de ser escolhido como diretor;

- Christian Bale e Brad Pitt estiveram cotados para o personagem Will;

- O diretor Jim Sheridan e Jim Robinson, chefe da Morgan Creek Productions, discutiram várias vezes nos sets de filmagens, devido a questões de roteiro e da produção. Após o filme não ser bem recebido em exibições teste, Sheridan foi obrigado a rodar novas cenas para o longa-metragem. Mesmo assim Robinson retirou o filme de suas mãos e ordenou uma nova edição e a divulgação de um trailer que revelava vários dos segredos do filme. Em retaliação, Sheridan e os astros Daniel Craig e Rachel Weisz se recusaram a promover o filme;

- Após a estreia nos cinemas americanos, Jim Sheridan fez um pedido formal ao Directors Guild of America, o sindicato de diretores nos Estados Unidos, solicitando a retirada de seu nome nos créditos de ‘A Casa dos Sonhos’;

- As filmagens aconteceram entre fevereiro e 9 de abril de 2010;

- Durante as filmagens os atores Daniel Craig e Rachel Weisz se apaixonaram. O relacionamento foi anunciado meses depois, com o casal se casando em segredo em junho de 2011;

- Não foi exibido para a crítica especializada americana antes do lançamento nos cinemas;

- Seu orçamento foi de US$ 55 milhões.

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