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domingo, 24 de janeiro de 2016

Ponte dos Espiões

Quando o assunto é história, o diretor e produtor Steven Spielberg se encarrega de alcançar a perfeição. Foi assim com ‘A Lista de Schindler’ (1993), 'O Resgate do Soldado Ryan' (1998), 'Munique' (2005) e o mais recente 'Cavalo de Guerra' (2011). Sendo assim, Spielberg merece um dez nessa matéria, porque com um blockbuster sobre a Guerra Fria, pode-se esperar uma enésima produção enaltecendo a coragem americana diante do perigo vermelho. Felizmente, ‘Ponte dos Espiões’ está distante da euforia militarista. Em primeiro lugar, este é um filme didático: letreiros e personagens explicam de modo simplificado as principais características do embate entre os Estados Unidos e a União Soviética, para que nenhum espectador se sinta deslocado. Spielberg tem clara preocupação em dialogar com um público amplo.

Por esta porta de entrada escolar, o filme começa a introduzir, progressivamente, noções complexas como a soberania nacional e a crise do patriotismo. No caso, a trama apresenta uma dupla ironia em plena Guerra Fria: quando um espião supostamente soviético é capturado nos Estados Unidos e outro americano é preso na URSS, o advogado especializado em seguros James Donovan (Tom Hanks) sem ligações ao governo é encarregado de defender Rudolf Abel (Mark Rylance), um espião soviético capturado pelos americanos. Mesmo sem ter experiência nesta área legal, Donovan torna-se uma peça central das negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética ao ser enviado a Berlim para negociar a troca de Abel por dois prisioneiros americano, capturado pelos inimigos. Ambos os países fazem questão de repatriar seus conterrâneos, mas desprezam estes homens que foram capturados (ou seja, fracassaram em permanecer invisíveis) e provavelmente entregaram informações confidenciais ao inimigo.

Lembrando que o roteiro segue uma história real, é louvável o cuidado do mesmo em equilibrar os dois lados da guerra. O protagonista é americano, (claro), mas sua principal característica é trabalhar contra a moral vigente no país: o advogado James Donovan recusa-se a dar uma defesa fraca a seu cliente espião, e faz o possível para inocentá-lo, como qualquer advogado deveria fazer. As altas instâncias do direito americano são vistas como parciais e corruptas, enquanto o povo é retratado como um grupo de ignorantes sedentos por sangue.

Mais uma vez a parceria Spielberg e Hanks deu certo, com um drama envolvente que faz com que o espectador se sinta em meio ao conflito de nações que estão dispostas a fazer tudo para ter informações do inimigo, em tempos de conflitos econômicos e comunistas. Por trás da aparência sombria e dos momentos de humor, o roteiro está muito bem impregnado de melancolia diante da falência do sistema moral e judicial. Não por acaso, o clímax transforma-se de fato em um anticlímax, sem ações eletrizantes, sem grandes movimentos de câmera, apenas um gesto simples, humano e rápido, filmado em enquadramentos precisos. Quem esperar altas doses de ação pode ficar frustrado, mas os fãs de diálogos afiados e suspense estratégico terão um prato cheio.

Estamos falando de um filme de guerra, ou melhor dizendo, a Guerra Fria, atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991), um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência.

Mas deixando toda a história politica e comunista de lado, este é mais um longa que merece total atenção para admiradores ou não da história. Recomendo mais um grande clássico de Spielberg e Hanks.


Título original: (Bridge of Spies)
Lançamento: 2015
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Matt Charman, Joel e Ethan Coen
Produção: Steven Spielberg, Marc Platt, Kristie Macosko Krieger
Duração: 141 min.
Gênero: Drama
Orçamento: UU$ 60 milhões
Distribuidores: Fox Film do Brasil
Classificação: 14 anos


Elenco


Tom Hanks (James B. Donovan)
Mark Rylance (Rudolf Abel)
Scott Shepherd II (Hoffman)
Amy Ryan (Mary McKenna Donovan)
Sebastian Koch (Wolfgang Vogel)
Alan Alda (Thomas Watters)
Austin Stowell (Francis Gary Powers)
Domenick Lombardozzi (Agente Blasco)
Michael Gaston (Williams)
Peter McRobbie (Allen Dulles)
Will Rogers (Frederic Pryor)
Stephen Kunken (William Tompkins)
Joshua Harto (Bates)
Edward James Hyland (juiz Earl Warren)
Marko Caka (Repórter)


Curiosidade



- ‘Ponte de Espiões’ foi indicado ao Oscar 2016 de Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Mark Rylance), Roteiro Original, Trilha Sonora, Design de Produção e Mixagem de Som;

- O filme é baseado na história real do piloto Francis Gary Powers;

- O roteiro foi escrito por Matt Charman em parceria com os irmãos Ethan e Joel Coen;

-Esta é a segunda colaboração entre Steven Spielberg e os irmãos Coen, Ethan e Joel. Spielberg foi produtor executivo de Bravura Indômita (2010), cuja direção é dos Coen;

- O título do filme faz referência a uma ponte que ligava a antiga Berlim Ocidental como o centro da cidade de Potsdam, anteriormente sob o controle da Alemanha Oriental. O apelido "Ponte de Espiões" surgiu nos anos 60 por conta de agências de inteligência americana e soviética, que faziam trocas de prisioneiros em sua área;

- O pai de Steven Spielberg, Arnold Spielberg, era engenheiro intercambista na Rússia durante a Guerra Fria, logo após Francis Gary Powers ser abatido, quando houve um tremendo medo e hostilidade entre as duas nações. Spielberg lembra de ter visto os cidadãos russos formarem fila para observarem Powers e dizer "vejam o que a América fez." Quando perceberam os engenheiros americanos, apontaram para eles e disseram: "Olhem o que o seu país está fazendo conosco", demonstrando o medo e a raiva que um país sentia do outro;

- A trilha sonora seria de responsabilidade John Williams, mas o compositor foi substituído por Thomas Newman, de ‘007 - Operação Skyfall’ (2012);

- Tom Hanks e Steven Spielberg já trabalharam juntos no drama de guerra ‘O Resgate do Soldado Ryan’ (1998), na comédia ‘Prenda-me Se For Capaz’ (2002) e no drama ‘O Terminal’ (2004). Os dois ainda assinaram a produção da minissérie ‘Band of Brothers’ (2001);

- Novo encontro de Tom Hanks e Steven Spielberg depois de ‘O Resgate do Soldado Ryan’ (1998) e ‘Prenda-me Se For Capaz’ (2003);

- Foi indicado ao Globo de Ouro 2016 de Melhor Ator Coadjuvante (Mark Rylance).

Um comentário:

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