Tom Hooper, mesmo diretor responsável por ‘Sombras do Passado’ de 2004, conseguiu fazer um filme irretocável, mas mesmo assim faltou um certo tempero talvez. Mas não, não estou falando de algum prato preguiçosamente preparado, mas de sim do agradável ‘O Discurso do Rei’, um filme que tem todos os parafusos nos seus exatos lugares. Talvez justamente seja esse o maior incômodo após a sessão.
Desde os 4 anos, George (Colin Firth) é gago. Este é um sério problema para um integrante da realeza britânica, que frequentemente precisa fazer discursos. George procurou diversos médicos, mas nenhum deles trouxe resultados eficazes. Quando sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), o leva até Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta de fala de método pouco convencional, George está desesperançoso. Lionel se coloca de igual para igual com George e atua também como seu psicólogo, de forma a tornar-se seu amigo. Seus exercícios e métodos fazem com que George adquira autoconfiança para cumprir o maior de seus desafios: assumir a coroa, após a abdicação de seu irmão David (Guy Pearce).
A direção de arte reconstruiu cenários e figurinos que optam por uma luz que recorde os anos 30 de uma bela forma colorida. A direção é discreta e opta sempre pelo previsível. O roteiro, apesar dos diálogos perspicazes, desenvolve a história sem surpresas. A montagem articula as sequências seguindo o bê-á-bá. Talvez o trio principal de atores – Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham Carter – seja o único elemento do filme que foge minimamente dos padrões.
‘O Discurso do Rei’ parece um filme embalado com um selo de qualidade a indicar para o espectador que ele não vai se decepcionar. Se estiver esperando por uma história sem percalços de compreensão e contada com dignidade, não haverá frustração. Mas o longa-metragem de Tom Hopper, indicado a 12 estatuetas do Oscar, e levando as três categorias principais, o longa bem que poderia ser mais ousado.
Mas o filme não chega a ser tão mal, com um roteiro impecável a química entre os ótimos Colin Firth e Geoffrey Rush é de encher os olhos de qualquer cinéfilo, ambos conseguem entrar no personagem de certa forma que chega a convencer, Oscar mais que merecido para Firth. E claro que não posso deixar de falar da excelente Helena Bonham Carter, sou suspeito em falar dela, sou fã assumido de todos seu trabalhos, mas sua atuação como a esposa preocupada do próximo rei problemático é perfeita, Tom Hooper soube escalar um elenco magnífico, o que também lhe rendeu um Oscar por melhor Diretor.
Mas talvez uma direção mais solta ajudaria tremendamente a contar a história do futuro rei George VI, mas Hopper decide entregar uma parte considerável do filme na mão dos atores. Claro que o resultado é satisfatório, afinal Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham Carter são três atores que têm “giro”, ou seja, pegam o que o diretor os leva e transformam em algo além. Mas fica um gosto de falta alguma coisa a mais. O Oscar de Melhor Filme não foi injusto, mas não merecia tanto. Um bom filme, não vai cair no esquecimento, mas ainda não é “o filme”.
Nota: 8.5
Download: ‘O Discurso do Rei’
Título original: (The King's Speech)
Lançamento: 2011 (Inglaterra)
Direção: Tom Hooper
Roteiro: David Seidler
Duração: 118 min.
Gênero: Drama
Estúdio: See Saw Films / FilmNation Entertainment / The Weinstein Company / UK Film Council / Momentum Pictures
Distribuidora: Paris Filmes
Elenco:
Colin Firth (Rei George VI)
Helena Bonham Carter (Rainha Elizabeth)
Geoffrey Rush (Lionel Logue)
Guy Pearce (Rei Edward VIII)
Timothy Spall (Winston Churchill)
Michael Gambon (Rei George V)
Derek Jacobi (Arcebispo Cosmo Lang)
Andrew Havill (Robert Wood)
Calum Gittins (Laurie Logue )
Jennifer Ehle (Myrtle Logue)
Dominic Applewhite (Valentine Logue)
Ben Wimsett (Anthony Logue)
Jake Hathaway (Willie)
Claire Bloom (Rainha Mary)
Orlando Wells (Duque de Kent)
Tim Downie (Duque de Gloucester)
Eve Best (Wallis Simpson)
Curiosidades
- Inicialmente o papel principal foi oferecido a Paul Bettany, que o recusou alegando que queria passar mais tempo com a família. Posteriormente, o ator lamentou publicamente tal decisão;
- No filme, Guy Pearce interpreta o irmão mais velho do personagem de Colin Firth. Na verdade ele é sete anos mais novo que Firth;
- Este é o 2º filme em que Timothy Spall interpreta Winston Churchill. O anterior foi ‘Jackboots in Whitehall’ (2010);
- Michael Gambon interpretou o Rei Edward VII na minissérie britânica ‘The Lost Prince’. Em ‘O Discurso do Rei’, interpreta o filho deste, o Rei George V.
- As filmagens tiveram que ser adequadas à agenda de Helena Bonham Carter, ocupada devido às gravações de ‘Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1’ (2010) e ‘Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2’ (2011);
- As filmagens ocorreram entre 13 de novembro de 2009 e janeiro de 2010;
- Após a cerimônia do Oscar foi relançado nos cinemas americanos em nova edição, que retirou as cenas em que o rei George VI falava palavrões. Chamada de "versão família", ela foi lançada visando uma censura mais branda.
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