Como falar de um cineasta que vimos de relance? Relance que significa 1 filme e alguns trechos no YouTube? Ainda mais quando esse cara produziu mais de 70 filmes em 20 anos? Só um cineasta urgente como Takashi Miike para autorizar uma resenha urgente.
Pela primeira vez, temos uma mostra sobre o trabalho do diretor japonês.
Nascido em família humilde, com pai dado a apostas e bebidas, Miike teve uma infância difícil. Ele foi piloto de corrida. Depois, ingressou em uma escola de cinema, não por gosto, mas como chance de sair de casa e não fazer nada. E por levar o curso na flauta, acabou sendo indicado para estagiar em um canal de televisão. Na TV, pegou o jeito de produzir muitos filmes em pouco tempo. Depois, ele virou assistente de direção de Shoshei Imamura, e depois de muitos outros diretores.
Miike teve uma vida tortuosa, com muitos percalços. Essa vida acidentada virou combustível para seus filmes, mistos de absurdo, comédia, terror, violência, ficção, drama familiar, Yakuza. Esse mix resultou em uma subversão de gênero: ora misturando terror e drama familiar; ora juntando terror e musical; em outro momento Yakuza e super-herói.
O diretor nunca teorizou tal subversão. Seu desejo era fazer um cinema livre. Algo perceptível mesmo vendo cenas de relance, como na figura da mulher em “Audição”, a ambiguidade entre humor e horror de “Ichi, The Killer”, nas imagens de “Sukiyaki Western Django”.
O cinema de Miike é urgente, agressivo, delirante, imprevisível, uma fusão de estilos. Um cinema que reflete nosso tempo. Não de forma mimética, mas como um espelho estilhaçado deformando nossa imagem. E nessa distorção ele expõe, em seu subtexto, nosso mundo: doentio, veloz, agressivo. Ou você nega que vivemos tempos rápidos, hiper-conectados, onde se privilegia a sensação no lugar da reflexão? E, atingindo nossas sensações, seus filmes nos empurram à reflexão, mesmo que torta.
Miike desejava filmar livremente. E assim, sem pretensão, ele vem construindo uma obra provocante.
Ele é um diretor essencial? O mais importante da atualidade? Só os deuses do cinema sabem. Posso dizer, com certeza, é um dos mais instigantes.
Serviço:
Mostra 20 Anos de Takashi Miike.
Centro Cultural Banco do Brasil.
São Paulo: 17 a 28 de agosto.
Rio de Janeiro: 30 de agosto a 11 de setembro.
Maiores informações: http://www.takashimiike.com.br/
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